
Inverno pode trazer novas fortes ondas de frio e neve?
08/06/2025
O Sul do Brasil registrou uma prévia do inverno no fim de maio com o maior episódio de neve desde julho de 2021 com acumulação em pontos das áreas mais elevadas dos Aparados da Serra do Rio Grande do Sul e do Planalto Sul de Santa Catarina, como nos municípios de São José dos Ausentes (RS) e Bom Jardim da Serra (SC).

Neve marcou a onda de frio do fim de maio | MYCCHEL LEGANGHI/SÃO JOAQUIM ONLINE
O episódio de neve no fim de maio, embora não raro no mês de maio, ocorreu quase um mês antes do começo do inverno astronômico, mas a poucos dias do início do chamado inverno meteorológico, o período do ano definido na climatologia como o trimestre de junho a agosto.
A ocorrência de neve foi consequência da interação entre a circulação de umidade de um ciclone extratropical cujo centro de baixa pressão estava muito rente à costa do Litoral Norte do Rio Grande do Sul com uma massa de ar frio de trajetória continental com uma baixa fria exatamente entre os estados gaúcho e catarinense.
O inverno meteorológico já teve início, mas pelo critério astronômico só começa no dia 20 de junho às 23h42. Com a chegada do inverno, há a expectativa de ondas de frio e da ocorrência de neve. E logo vem a pergunta se pode voltar a nevar.
Diferentemente da chuva e da temperatura, em que se pode antever com alguns meses de antecedência a perspectiva de ficar abaixo, dentro ou acima da média, a ocorrência de neve no Sul do Brasil recai em prognósticos de curtos prazos.
Assim, não é possível prever dois ou três meses antes se haverá uma grande nevada. Padrões climáticos associados a fenômenos de grande escala indicam uma maior ou menor probabilidade de nevar, com o El Niño reduzindo a probabilidade de eventos de neve e a La Niña aumentando a chance de ocorrência de eventos de precipitação invernal.
Em 2025, o inverno transcorre sem a influência de nenhum dos fenômenos e sim com um padrão de neutralidade no Oceano Pacifico Equatorial, o que por um lado não traz um cenário tão desfavorável como El Niño nem tão favorável como La Niña.
Neve em anos recentes com o fenômeno em maio
Na história recente, dois anos marcantes em termos de neve tiveram o fenômeno em maio, como em 2025. Foram 2013 e 2022. Em 2013, a neve foi tímida e caiu na forma granular no Planalto Sul Catarinense, mas em julho e agosto viriam dois eventos no Sul do Brasil de neve ampla e com grande acumulação. O trimestre de junho agosto naquele ano foi de temperatura perto da média e algumas áreas tiveram marcas acima da média no inverno meteorológico, mas agosto foi muito frio.
Já em 2022, o principal evento de neve foi em maio com o registro do fenômeno até no Sul do Rio Grande do Sul e com maior intensidade no Planalto Sul Catarinense. O evento se deu sob a influência da circulação de umidade do ciclone subtropical Yakecan. Mais tarde naquele ano, nevou fraco em 18 de agosto no Sul gaúcho, Aparados e Planalto Sul Catarinense. O mais impressionante foi a neve tardia de 22 e 23 de setembro em São Joaquim com pequena acumulação e a neve no Morro da Igreja, em Santa Catarina, em 1º de novembro, um registro inédito para o mês.
No passado mais distante, um evento memorável de neve se deu nos três estados do Sul do Brasil no final de maio de 1979, episódio do famoso jogo da neve entre Grêmio e o Esportivo, em Bento Gonçalves. Em 20 e 21 de julho, houve uma grande nevada que afetou os três estados do Sul do Brasil. No Planalto Sul Catarinense, em São Joaquim, a acumulação foi enorme, na ordem de dezenas de centímetros. Jornais da época descreveram como a maior nevada na cidade desde a tempestade de inverno de 1957. Ainda nevaria em 19 de setembro, em Cambará do Sul, relata o geógrafo Nilson Wolff em seu livro “A Neve no Brasil”.
Neve ocorre mesmo em invernos não rigorosos
O inverno deste ano não se desenha rigoroso com frio intenso muito frequente. Os dados dos modelos de clima, ao contrário, indicam uma estação com tendência de temperatura acima da média nos três estados da Região Sul.
Os mapas abaixo mostram as projeções de anomalias de temperatura para o trimestre do inverno meteorológico de junho a agosto neste ano dos modelos SEAS5 do Copernicus da União Europeia e o NMME, que é integrado por vários modelos dos Estados Unidos e do Canadá.

METSUL

METSUL
Como se observa, os dois modelos indicam um trimestre de temperatura acima da média na Região Sul. Vários outros modelos internacionais de clima, como os alemão, britânico, da NASA e outros, sugerem a mesma tendência de um trimestre climatológico de inverno com marcas acima da média.
Mas média é média, e, como tal, esconde extremos. Vai fazer frio e haverá dias gelados. Assim, mesmo invernos que não sejam rigorosos por frio intenso constante não deixam de ter episódios de frio e alguns até significativos. Apenas que estes episódios tendem a ser pontuais na estação, assim como se viu em maio que foi um mês de temperatura acima da média na maior parte do Centro-Sul do Brasil e terminou com muito frio e neve.
Nesse sentido, o prognóstico da MetSul indica que os episódios de frio mais intenso tendem a ser pontuais neste inverno no Sul do Brasil, afetando em maior número os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Um ou outro deve ser mais expressivo e ter chance de neve, especialmente se acompanhado de um ciclone extratropical.
Considerando a analogia histórica e variáveis de longo prazo, existe a possibilidade de voltar a nevar, mas em se tratando a neve de fenômeno de tempo e não clima, só pode ser prevista em curto prazo. Finalmente, eventos de neve com acumulação não são a regra, tanto que o recente episódio de maio foi o principal em quatro anos.
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