
Stephen Miller: o arquiteto da política de imigração de Trump
15/06/2025
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Agora, Miller detém mais poder e influência na Casa Branca, como vice-diretor de políticas e assessor de segurança nacional.
Stephen Miller declarou à rede de TV americana Fox News, no final de maio, que seu objetivo é atingir 3 mil prisões de imigrantes sem documentos por dia. Este número corresponde a mais de um milhão de detenções por ano.
Ele também ordenou que o Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) intensifique suas batidas, segundo o jornal The Wall Street Journal. Isso porque o número de deportações diárias era menor que o verificado no ano passado, durante o governo Biden.
“Simplesmente saiam e prendam os ilegais”, disse Miller firmemente aos agentes, conforme noticiou o jornal.
Atribui-se a esta ordem a batida do ICE no estacionamento de uma loja de ferragens, que gerou os fortes protestos ocorridos desde domingo (8/6) em Los Angeles, no Estado americano da Califórnia.
Os distúrbios levaram Trump a destacar tropas da Guarda Nacional e fuzileiros navais para a região e se propagaram para outras cidades do país.
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Miller é considerado um dos ideólogos mais radicais sobre imigração entre os altos órgãos de decisão do governo Trump.
“Passamos anos dizendo que esta é uma luta para salvar a civilização. Qualquer um que tenha olhos pode ver isso agora”, afirmou ele em 8/6, no X (antigo Twitter).
Estas medidas refletem o enfoque nacionalista e linha-dura promovido pelo “falcão” republicano, sempre muito ativo para defender suas propostas pela imprensa, desde os primórdios do trumpismo.
“Usaremos todo o poder das forças federais sob o comando e a direção do presidente Trump para salvar este país da ocupação”, declarou Miller, após sua nomeação.
Mas quem é Stephen Miller, considerado uma das figuras mais radicais, temidas e influentes da Casa Branca?
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A escalada ao poder
Stephen Miller nasceu em 1985, em uma família judia de Santa Mônica, no Estado americano da Califórnia. Desde muito jovem, ele demonstrou notável interesse pela política, influenciado por figuras e órgãos de imprensa com posições conservadoras.
Com 16 anos de idade, ele escreveu uma carta para um jornal local, criticando a falta de patriotismo na sua escola. Miller se posicionou como ativista conservador que, entre outras coisas, exigia que os estudantes latinos só falassem em inglês em sala de aula.
Sua formação política se consolidou na Universidade Duke, no Estado americano da Carolina do Norte. Em 2007, ele se formou em Ciências Políticas, protagonizando um episódio que ofereceria um impulso precoce à sua carreira, segundo especialistas.
Miller se destacou como ativo defensor de um grupo de jogadores de lacrosse da equipe universitária. Eles foram acusados de violação e comprovaram sua inocência. O caso atingiu certa relevância na imprensa.
Foi nesse período que Miller começou a se relacionar com figuras controversas, como o conhecido supremacista branco Richard Spencer. Mas o assessor republicano nega que eles tenham mantido um relacionamento próximo.
Depois de se formar, Miller trabalhou como assessor de comunicação para congressistas republicanos. Em 2009, ele se colocou a serviço do então senador Jeff Sessions, conhecido pela sua posição linha-dura em relação à imigração.
Sob a tutela de Sessions, Miller desempenhou papel fundamental na oposição ao projeto bipartidário de reforma migratória de 2013. Ele consolidou sua posição de opositor da política de fronteiras abertas.
Em 2016, Miller entrou na primeira campanha presidencial de Donald Trump, como assessor de políticas e redator de discursos. O tom nacionalista e anti-imigração dos pronunciamentos de Trump é atribuído a Miller, como o discurso de posse de 2017.
Também se atribui a ele a elaboração de duas das medidas mais polêmicas do primeiro mandato de Trump (2017-2021): o veto à entrada de pessoas de países de maioria muçulmana nos Estados Unidos e a separação de famílias de imigrantes em situação irregular.
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Segundo o portal Político, sua capacidade de interpretar e amplificar a visão de Trump consolidou Miller como figura indispensável durante o primeiro mandato do presidente.
Desde então, ele ficou conhecido pelo seu enfoque radical sobre imigração e sua capacidade de transformar ideias extremistas em políticas concretas.
Segundo o jornal The New York Times, o assessor republicano aperfeiçoou sua estratégia, operando em sigilo e evitando oposições internas. Isso permitiu que ele aplicasse com sucesso algumas das medidas mais radicais do trumpismo.
A estratégia
Para seu segundo mandato, Trump confiou a Stephen Miller poderes mais amplos sobre a agenda migratória. Ele transformou o assessor na principal figura decisória do setor, ao lado do “czar da fronteira”, Tom Homan.
Com seu cargo de vice-diretor de políticas e assessor de segurança nacional, Miller liderou a redação de uma avalanche de ordens executivas para colocar em andamento a agenda migratória do presidente, que prometeu acabar com o fluxo de imigrantes irregulares e deportar os que já estivessem em solo americano.
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Uma destas ordens foi a extinção da cidadania por nascimento para os filhos de pais sem documentos ou residentes temporários. Esta medida nega um direito histórico, garantido pela 14ª Emenda à Constituição americana, e foi impugnada pela Justiça do país.
Trump também restaurou o Título 42, que permite o fechamento da fronteira com o México em nome da saúde pública.
Ele também declarou emergência nacional na fronteira sul dos Estados Unidos. Especialistas indicam que a intenção da medida foi justificar uma militarização sem precedentes dos mecanismos de deportação.
Trump também cancelou pedidos de asilo pendentes, negou a entrada de novos refugiados no país e incluiu a classificação dos cartéis de drogas como organizações terroristas estrangeiras.
Miller é o cérebro do que alguns especialistas chamaram de “estratégia de saturação”: inundar a oposição e a imprensa com um fluxo constante de medidas e ações executivas, para exceder sua capacidade de reação e maximizar sua eficácia.
O site Político destaca que o assessor trabalhou com advogados externos, sem recorrer ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, como é habitual no seu cargo. Seu objetivo era blindar as novas políticas e garantir sua colocação em prática com o menor número possível de obstáculos legais.
Este enfoque refletiria as lições aprendidas por Miller durante o primeiro mandato de Trump, quando medidas como o veto migratório enfrentaram bloqueios judiciais.
Além do seu trabalho interno, Miller estabeleceu relações estratégicas com figuras influentes fora do governo, como o empresário Elon Musk – que, nos últimos tempos, endureceu sua postura contra a imigração.
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O assessor de segurança nacional de Trump também criou a organização de juristas conservadores America First Legal, que promove litígios e campanhas na imprensa contra instituições e organizações acusadas de amparar ou incentivar a imigração ilegal.
Por isso, Stephen Miller não é apenas o arquiteto das políticas mais radicais do trumpismo. Ele também é o estrategista que aperfeiçoou suas táticas e ferramentas, para aplicá-las de forma mais eficaz.
Lealdade absoluta a Trump
Desde o princípio, na campanha presidencial de 2016, Stephen Miller demonstrou sua lealdade inabalável a Donald Trump. Ele se tornou um dos seus aliados incondicionais e mais próximos.
Miller entrou na equipe de Trump quando o atual presidente ainda era considerado uma aposta improvável para a Casa Branca. Ele redigiu alguns dos seus primeiros discursos, modelando e amplificando com sucesso seu tom populista e nacionalista.
No primeiro mandato de Trump, Miller evitou se envolver nas disputas internas do governo. Ele manteve boas relações tanto com os mais moderados, quanto com os mais radicais, segundo o The New York Times.
Mas ele nunca defendia um aliado que caísse em desgraça com Trump. Foi o caso do seu antigo mentor e chefe no Senado, Jeff Sessions.
Em 2017, Sessions renunciou ao seu cargo de procurador-geral quando perdeu o apoio do então presidente. Miller logo priorizou sua lealdade ao líder, distanciando-se do seu antigo benfeitor.
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Esta fidelidade absoluta também se reflete na sua disposição de seguir as ordens de Trump sem questioná-las, especialmente em público.
O site Político afirma que o estrategista nunca contradiz o presidente, mesmo em reuniões privadas. Ele se alinha rapidamente a qualquer decisão tomada por Trump.
Isso permitiu que ele sobrevivesse a diversas mudanças de gabinete durante o primeiro governo e às disputas internas do partido.
É claro que Miller apoiou a todo momento a teoria mais que questionável, de que as eleições vencidas por Joe Biden em 2020 foram fraudadas.
Figura controversa
As políticas elaboradas por Stephen Miller durante os dois mandatos de Donald Trump geram fortes controvérsias na política e na sociedade americana.
Para seus opositores, como legisladores democratas e organizações de direitos humanos, a agenda de Miller representa um ataque direto aos princípios fundamentais dos Estados Unidos e às comunidades mais vulneráveis.
Grupos como a União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) e o Centro de Direito da Pobreza do Sul descrevem suas políticas como extremistas e discriminatórias.
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Analistas consultados pelo The New York Times alertam que as políticas promovidas por Miller poderiam transformar a gestão da imigração nos Estados Unidos. Elas fechariam portas historicamente abertas a refugiados e solicitantes de asilo.
Seus críticos também acreditam que as possíveis deportações e a militarização da fronteira poderiam pressionar as relações com os países vizinhos, como o México, e gerar novas crises humanitárias.
Mas, para os simpatizantes do trumpismo, Miller é um estrategista visionário que redefiniu as políticas de imigração dos Estados Unidos. Eles defendem que seu enfoque nacionalista e linha-dura ajudará a proteger a segurança e o bem-estar dos americanos.
Enquanto aguardamos para saber quais serão os efeitos definitivos do seu legado, milhões de imigrantes já sentem, de diversas formas, o impacto das políticas criadas e impulsionadas por Stephen Miller, que prometem continuar sendo objeto de controvérsias e disputas nos próximos quatro anos.