
Guerra Israel x Irã: qual o objetivo final do governo israelense com ataques?
17/06/2025
Crédito, Ronen Zvulun/Reuters
- Author, Lyse Doucet
- Role, Correspondente-chefe Internacional da BBC News
Na sexta-feira (13/6), após Israel lançar um ataque sem precedentes contra o Irã, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se dirigiu diretamente aos iranianos. Falando em inglês, disse a eles que havia chegado a hora de se levantarem contra um “regime maligno e opressor”.
As operações militares de Israel estavam, anunciou ele, “abrindo caminho para que vocês alcancem a liberdade”.
Agora, com a intensificação do confronto militar entre Irã e Israel e a ampliação do leque de alvos, muitos se perguntam: qual é o verdadeiro objetivo final de Israel?
Seria simplesmente para pôr fim, como Netanyahu também declarou na sexta-feira, na primeira noite de ataques, à “ameaça nuclear e de mísseis balísticos do regime islâmico”?
Seria também para encerrar quaisquer novas negociações entre os EUA e o Irã, para chegar a um novo acordo negociado para conter o programa nuclear iraniano em troca do levantamento de sanções dolorosas?
Ou será que essa mensagem aos iranianos sobre abrir caminho para alcançar a liberdade poderia apontar para um objetivo ainda maior de tentar pôr fim ao regime clerical do Irã?
De generais a Trump: quem dá ouvidos a Netanyahu?
A carreira política do primeiro-ministro israelense com o mandato mais longo foi marcada por sua missão pessoal de alertar o mundo sobre os perigos representados pela República Islâmica do Irã. Desde um desenho de uma bomba que ele exibiu nas Nações Unidas até sua repetida declaração, durante os últimos 20 meses de uma guerra regional acirrada, de que o Irã era a maior ameaça de todas.
É sabido que presidentes americanos e os próprios generais de Netanyahu o impediram, mais de uma vez ao longo dos anos, de ordenar ataques militares contra as instalações nucleares iranianas.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirma que não deu sinal verde. Mas mesmo o que parece ter sido, pelo menos, um sinal amarelo parece ter sido suficiente.
“Agora que ele está dentro, ele está com tudo”, foi como uma autoridade ocidental descreveu o jogo de Netanyahu. Ele também sublinhou a visão de que o principal objetivo de Israel era paralisar o programa nuclear iraniano. Essa decisão foi amplamente condenada por Estados da região, bem como pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), cujo diretor-geral, Rafael Grossi, sublinhou: “Tenho afirmado repetidamente que instalações nucleares jamais devem ser atacadas, independentemente do contexto ou das circunstâncias”.
Juristas também a condenaram, argumentando que os ataques são ilegais segundo o direito internacional.
Mas muitos agora se perguntam se o primeiro-ministro israelense busca os mesmos objetivos de seus principais conselheiros e aliados.
Crédito, Lucas Jackson/Reuters
“Enquanto Netanyahu investiu pessoalmente sua sorte na mudança de regime, o establishment político e militar israelense está comprometido em retroceder profundamente o programa nuclear iraniano”, afirma Sanam Vakil, diretora do programa para Oriente Médio e Norte da África no think tank Chatham House.
“Este último pode ser difícil, mas relativamente realizável”, acrescenta. “O primeiro parece mais difícil de ser alcançado em um conflito curto e em intensificação.”
Destruindo o programa nuclear do Irã
Netanyahu classificou a operação de Israel como um ataque preventivo para destruir uma ameaça existencial. O avanço do Irã, declarou ele, estava “aos 45 minutos do segundo tempo” em direção ao desenvolvimento de uma bomba nuclear.
Aliados ocidentais ecoaram sua declaração de que Teerã não deve cruzar essa linha. Mas o relógio de Netanyahu também tem sido amplamente questionado.
O Irã negou repetidamente ter decidido construir uma bomba. Em março, Tulsi Gabbard, diretora de Inteligência Nacional dos EUA, testemunhou que a comunidade de inteligência dos EUA “continua avaliando que o Irã não está construindo uma arma nuclear”.
A AIEA afirmou em seu último relatório trimestral que o Irã havia acumulado urânio enriquecido com até 60% de pureza – um pequeno passo técnico para atingir o grau de armas, ou 90% – para potencialmente fabricar nove bombas nucleares.
Nestes primeiros dias, três instalações-chave no vasto programa iraniano foram alvos: Natanz, Isfahan e Fordow. A AIEA afirmou que uma usina piloto de enriquecimento de combustível, acima do solo, em Natanz, foi destruída.
A AIEA também informou que quatro “prédios críticos” foram danificados em Isfahan. Israel descreve os danos às instalações iranianas como “significativos”. O Irã afirma que são limitados.
E Israel também está atacando “fontes de conhecimento” ao assassinar, até o momento, pelo menos nove cientistas nucleares e uma lista crescente de comandantes militares de alto escalão. Sua lista de alvos, que inclui bases militares, plataformas de lançamento de mísseis e fábricas, agora está se expandindo para instalações econômicas e petrolíferas.
O Irã também está revidando com sua própria lista de alvos em expansão, à medida que o número de vítimas civis aumenta em ambos os países.
Crédito, Maxar Technologies/Reuters
Mas, para desferir um golpe decisivo no vasto programa nuclear iraniano, Israel teria que causar danos significativos a Fordow, seu segundo maior e mais protegido complexo nuclear.
O complexo, localizado no subsolo de uma montanha, é onde alguns especialistas acreditam que o Irã armazenou grande parte de seu urânio quase em grau de armas.
Relatos na mídia israelense dizem que o objetivo atual é tentar bloquear o acesso à instalação.
Israel não possui as bombas destruidoras de bunkers necessárias para destruir tanta rocha. Mas a Força Aérea dos EUA as possui. Elas são conhecidas como MOP – o Penetrador de Artilharia Massiva de 13.660 kg guiado com precisão. Mas ainda seriam necessários muitos ataques, ao longo de muitos dias, para causar danos significativos.
“Acredito que o cenário mais provável é que Netanyahu ligue para Trump e diga: ‘Fiz todo esse outro trabalho, garanti que não haja ameaça aos bombardeiros B-2 e às forças americanas, mas não posso encerrar o programa de armas nucleares'”, disse Richard Nephew, ex-funcionário americano e especialista em Irã no Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, ao programa Newshour da BBC.
Uma autoridade ocidental me disse: “Ainda não está claro para que lado o presidente Trump vai se mover.”
Trump continua oscilando. No início da semana passada, ele instou Israel a parar de ameaçar o Irã militarmente, pois um ataque poderia “estragar tudo” nas negociações nucleares com o Irã, que ele sempre disse preferir.
Assim que Israel atacou, ele elogiou os ataques como “excelentes” e alertou que “há mais por vir, muito mais”. Mas também ponderou que eles poderiam ajudar a pressionar o Irã a fechar um acordo.
Em seguida, em uma publicação no domingo em sua plataforma Truth Social, ele declarou: “Teremos PAZ, em breve, entre Israel e o Irã! Muitas ligações e reuniões estão acontecendo agora.”
Os negociadores iranianos agora suspeitam que as negociações, que deveriam ser retomadas na capital de Omã, Mascate, no domingo, foram uma manobra para convencer Teerã de que um ataque israelense não era iminente, apesar das crescentes tensões. Os ataques fulminantes de Israel na manhã de sexta-feira pegaram o país desprevenido.
Crédito, Kevin Mohatt/Reuters
Outros também consideram o momento oportuno. “Os ataques sem precedentes de Israel foram planejados para acabar com as chances do presidente Trump de fechar um acordo para conter o programa nuclear iraniano”, afirma Ellie Geranmayeh, vice-chefe do programa para Oriente Médio e Norte da África no Conselho Europeu de Relações Exteriores.
“Embora algumas autoridades israelenses argumentem que esses ataques visavam fortalecer a influência dos EUA na via diplomática, está claro que o momento e a natureza em larga escala tinham como objetivo inviabilizar completamente as negociações.”
Autoridades com conhecimento dessas negociações me disseram na semana passada que “um acordo estava próximo”. Mas tudo dependia de os EUA se afastarem de sua exigência máxima para que o Irã encerrasse todo o enriquecimento nuclear, mesmo que fosse em percentuais muito menores, de um dígito, compatíveis com um programa civil. Teerã viu isso como uma “linha vermelha”.
Após o presidente Trump se retirar do acordo nuclear histórico de 2015 em seu primeiro mandato, em parte devido à insistência de Netanyahu, o Irã se afastou de sua obrigação de restringir o enriquecimento a 3,67% – nível usado para produzir combustível para usinas nucleares comerciais – e também começou a estocar.
Nessa segunda tentativa, o líder americano deu ao Irã “60 dias” para fechar um acordo – uma janela vista por mediadores com experiência e conhecimento na área como pequena demais para uma questão tão complexa.
Israel atacou no 61º dia.
“O canal de Omã está inativo por enquanto”, diz Sanam Vakil. “Mas esforços regionais estão em andamento para reduzir a tensão e encontrar saídas.”
O “estado de espírito churchilliano” de Netanyahu
Do ponto de vista de Teerã, essa escalada não se resume a estoques, centrífugas e mísseis supersônicos.
“Eles veem isso como um desejo de Israel, de uma vez por todas, desvalorizar as capacidades do Irã como Estado, suas instituições militares, e mudar o equilíbrio de poder entre Irã e Israel de forma decisiva, e talvez derrubar a República Islâmica como um todo, se possível”, argumenta Vali Nasr, professor de estudos do Oriente Médio e Relações Internacionais na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins e autor do livro Iran’s Grand Strategy: a Political Story (A Grande Estratégia do Irã: uma História Política), de 2025.
Não está claro como o público iraniano poderá reagir.
Crédito, Ronen Zvulun/Reuters
Uma nação de 90 milhões de pessoas sofre, há anos, os efeitos de sanções internacionais severas, bem como da corrupção sistemática. Protestos têm se intensificado, ano após ano, em questões que vão da alta inflação ao baixo nível de emprego, da escassez de água e eletricidade ao zelo da polícia da moralidade que restringe a vida das mulheres. Em 2002, ondas sem precedentes de protestos exigiram maiores liberdades, sendo recebidos com uma repressão severa.
Nasr oferece sua avaliação do ânimo público atual. “Talvez no início, quando quatro ou cinco generais muito impopulares foram mortos, eles possam ter sentido uma sensação de alívio, mas agora seus prédios estão sendo atingidos, civis foram mortos e a infraestrutura energética e elétrica do país está sob ataque”, diz ele.
“Não vejo um cenário em que a maioria dos iranianos vá se aliar a um agressor contra seu país enquanto ele o bombardeia, e de alguma forma veja isso como libertação.”
Mas as declarações de Netanyahu continuam sugerindo uma perseguição mais ampla.
No sábado, ele alertou que seu país atacará “todos os locais e todos os alvos do regime dos aiatolás”.
No domingo, quando questionado especificamente pela Fox News se a mudança de regime fazia parte do esforço militar de Israel, o premiê israelense respondeu que “certamente poderia ser o resultado, porque o regime iraniano é muito fraco”.
“Eles querem explorar os medos do regime de perder o controle como parte de sua guerra psicológica”, disse Anshel Pfeffer, correspondente em Israel da revista The Economist e autor de uma biografia de Netanyahu.
“O consenso dentro da inteligência israelense é que prever ou arquitetar a queda do regime iraniano é inútil. Pode acontecer em breve ou em 20 anos.”
Crédito, Taraneh Bazdari/ EPA/Shutterstock
Mas Pfeffer acredita que o pensamento do primeiro-ministro pode ser diferente. “Acho que há uma boa chance de que Netanyahu, ao contrário de seus chefes de espionagem, realmente acredite na mensagem. Ele está com um ânimo churchilliano.”
Na noite de domingo, começaram a aparecer na imprensa americana notícias, cada uma citando suas próprias fontes, de que o presidente Trump havia vetado nos últimos dias um plano israelense para assassinar o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. A agitação começou quando a Reuters divulgou a história pela primeira vez, citando duas autoridades americanas anônimas.
Figuras israelenses questionadas sobre seus objetivos, do ministro das Relações Exteriores, Gideon Sa’ar, ao chefe do Conselho de Segurança Nacional, Tzachi Hanegbi, enfatizaram que seu foco não está na liderança política do Irã. Mas Hanegbi acrescentou uma conclusão — “mas o conceito de ‘no momento’ é válido por um tempo limitado.”
No fim, os contornos desse desfecho serão moldados pelo curso de um confronto perigoso e imprevisível, e por um presidente americano imprevisível.
“O sucesso ou o fracasso está sendo amplamente definido pela capacidade dos EUA de se envolverem”, avalia Daniel Levy, presidente do projeto dos EUA para o Oriente Médio e ex-assessor do governo israelense. “Somente os EUA podem levar isso a um ponto final oportuno em um futuro próximo, determinando resultados e pontos de parada.”